sábado, 10 de novembro de 2012

A semelhança entre xícaras e pessoas


Éramos só nós dois. Eu deixei ela cair. 
Fiquei assustado, era, agora, milhões de pedacinhos espalhados pelo chão. Era a minha preferida, a que eu mais tinha carinho, mais apreço, mais cuidado, mas caiu. Caiu e quebrou. Eu não podia fazer nada, fiquei olhando, incrédulo. Pedaço por pedaço, cada um pra um lado e eu aqui de cima, parado. Triste. Olhando. 
Logo pensei: "vou colar", que tolo. Nunca fica igual. Caiu, quebrou, é pra sempre, não volta. Em um pensamento rápido, pós-moderno e egoísta, decidi: vou comprar uma nova e amar como se fosse a velha. Uma outra xícara. 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O homem das paixões tortas


João não tinha nada. Não tinha sobrenome e, acreditem, por sorte, alguém lembrou de dar-lhe um nome. Sem nome, ele ficou conhecido como João Ninguém. Não era muito agradável, mas tudo bem, ele já havia se acostumado. 
Andava todo dia pelas mesmas ruas, nos mesmos cantos, João não gostava de surpresas. Há quem o chame de covarde, mas não, ele é apenas precavido. Surpresas, como todos sabem, surpreendem, assustam, fazem rir, mas, vez ou outra, nos fazem chorar e ele era tudo, menos homem de choro!
Em um dia desses, dia comum, dia que acontece todo dia, João tropeçou. Caiu. Viu o mundo de cabeça pra baixo. Apaixonou-se. Entre medos e incertezas, João decidiu: seria, agora, o João das paixões tortas.