domingo, 30 de dezembro de 2012

Sobre amores e problemas


Você vem de lá e me abraça. Pronto, tudo já está bem novamente. Eu precisei beber um pouco pra te dizer o que repito incessantemente: eu te amo.
Não foi a bebida que me deu coragem, não foi a sonolência que me fez perder a noção do quão perigoso foi esse meu ato, foi apenas a vontade de dar a saber o quão grande, verdadeiro e sereno é o amor. O meu amor por você.
Se tudo virou realidade naquele momento, ouvir o seu tímido "eu também te amo" foi, de certa forma, o que eu não esperava. Depois de tudo, você ainda me ama. E mais do que isso, você ainda consegue verbalizar esse amor. 
Você também tem medo, deve ser por isso que nunca me deixa te esquecer completamente. Não deixe, por favor. Eu não quero saber qual deve ser a sensação de dizer que amo outra pessoa. Não será o mesmo amor, não será igual, não será o nosso amor problemático.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O porta-retrato


Ele tinha uma arma na mão, havia ficado tanto tempo parado ao sol que seu rosto já estava queimado. A cabeça quente e, repito, uma arma na mão. Corria pela areia quente, não se importava de estar com os pés queimando, afinal, aquilo lhe distraía.

Parece que ninguém havia percebido que ele estava passando. Correndo. Fugindo. Não tinha sangue nas mãos, mas a fúria no olhar era clara. E agora, para onde iria aquele homem? Não sabia o que fazer com a arma, não sabia o que fazer com o corpo, o seu corpo.

Finalmente, depois de tanto correr, chegou a lugar nenhum. Estava longe da cena do crime, estava longe do fim que ele mesmo começou. Só se perguntava: por que eu fiz isso?. Sentou, chorou e decidiu que iria jogar a arma fora. Talvez, com ela, fossem também as lembranças - boas e ruins -, fosse embora a culpa. 

Escolheu minuciosamente um canto daquela rua, que, mesmo estando dia, fazia-se escura e largou a arma lá. Olhou pra ela, e, mais uma vez, pensou: por que eu fiz isso?. Ele acabou o amor, acabou a esperança. Ele atirou e acertou, acertou exatamente no único porta-retrato, bem no meio da foto, bem no sorriso mais sincero que ela havia deixado antes de ir embora.

Agora, já era. Não existia mais foto, não existia mais ela. Ele não iria mais poder conviver com o resto de lembrança que ela havia esquecido de levar.

sábado, 10 de novembro de 2012

A semelhança entre xícaras e pessoas


Éramos só nós dois. Eu deixei ela cair. 
Fiquei assustado, era, agora, milhões de pedacinhos espalhados pelo chão. Era a minha preferida, a que eu mais tinha carinho, mais apreço, mais cuidado, mas caiu. Caiu e quebrou. Eu não podia fazer nada, fiquei olhando, incrédulo. Pedaço por pedaço, cada um pra um lado e eu aqui de cima, parado. Triste. Olhando. 
Logo pensei: "vou colar", que tolo. Nunca fica igual. Caiu, quebrou, é pra sempre, não volta. Em um pensamento rápido, pós-moderno e egoísta, decidi: vou comprar uma nova e amar como se fosse a velha. Uma outra xícara. 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O homem das paixões tortas


João não tinha nada. Não tinha sobrenome e, acreditem, por sorte, alguém lembrou de dar-lhe um nome. Sem nome, ele ficou conhecido como João Ninguém. Não era muito agradável, mas tudo bem, ele já havia se acostumado. 
Andava todo dia pelas mesmas ruas, nos mesmos cantos, João não gostava de surpresas. Há quem o chame de covarde, mas não, ele é apenas precavido. Surpresas, como todos sabem, surpreendem, assustam, fazem rir, mas, vez ou outra, nos fazem chorar e ele era tudo, menos homem de choro!
Em um dia desses, dia comum, dia que acontece todo dia, João tropeçou. Caiu. Viu o mundo de cabeça pra baixo. Apaixonou-se. Entre medos e incertezas, João decidiu: seria, agora, o João das paixões tortas. 

domingo, 1 de janeiro de 2012

O mar

Nunca houve muita honestidade, nunca existiram muitas verdades concretas. Até que o fim veio e ponto. Cabou-se o mundo de João e João. Ato falho... Apenas o primeiro João perdeu o mundo.
Eram 00:48 do último dia do ano. Era o começo do fim do ano, o começo do fim de João. Tocava uma música estranha, aquela cama também era estranha e até mesmo o ar parecia esquisito.  Era a falta de João.
Tudo iria sempre parecer estranho: o quarto, a cama, o mar, o mundo. Todos os prazeres desfeitos em frações de segundos, prazeres desfeitos enquanto as malas d'outro homem eram feitas. Será que nessas malas iam também os sonhos, as vontades, o mar, o amor, o mundo? não.
Roupas, livros, Cds, sapatos... tudo isso cabia. Mas não sobrou um minúsculo espaço para nenhuma lembrança. Que dó do mundo que ele abandonou.
Que dó do mundo vindouro.
Seriam encontros sem emoções, camas sem amores, mares sem tormentas - pelo menos pra um dos dois. E tudo que João mais queria era afogar-se num mar azul, gelado, sem fim, sem fim, sem fim...