quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O porta-retrato


Ele tinha uma arma na mão, havia ficado tanto tempo parado ao sol que seu rosto já estava queimado. A cabeça quente e, repito, uma arma na mão. Corria pela areia quente, não se importava de estar com os pés queimando, afinal, aquilo lhe distraía.

Parece que ninguém havia percebido que ele estava passando. Correndo. Fugindo. Não tinha sangue nas mãos, mas a fúria no olhar era clara. E agora, para onde iria aquele homem? Não sabia o que fazer com a arma, não sabia o que fazer com o corpo, o seu corpo.

Finalmente, depois de tanto correr, chegou a lugar nenhum. Estava longe da cena do crime, estava longe do fim que ele mesmo começou. Só se perguntava: por que eu fiz isso?. Sentou, chorou e decidiu que iria jogar a arma fora. Talvez, com ela, fossem também as lembranças - boas e ruins -, fosse embora a culpa. 

Escolheu minuciosamente um canto daquela rua, que, mesmo estando dia, fazia-se escura e largou a arma lá. Olhou pra ela, e, mais uma vez, pensou: por que eu fiz isso?. Ele acabou o amor, acabou a esperança. Ele atirou e acertou, acertou exatamente no único porta-retrato, bem no meio da foto, bem no sorriso mais sincero que ela havia deixado antes de ir embora.

Agora, já era. Não existia mais foto, não existia mais ela. Ele não iria mais poder conviver com o resto de lembrança que ela havia esquecido de levar.

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