sábado, 11 de maio de 2013

O som que o vento tem


A pele roxa, espancada, agora sangrava. Nela, as marcas de minutos atrás. Passou? Corria desesperadamente ao encontro de qualquer pessoas que a fizesse parar de chorar. A casa, antes mobiliada, estava agora aos destroços. Na sala, o sangue, as almofadas rasgadas e o amor morto, caído. A rua era grande e por desconjuro, o desespero para que ela acabasse também. Corri, corri e corria. Caiu. Ralou-se um pouco mais, mas prendeu o choro. Não sabia para onde ir e foi assim, sem saber onde parar, que caiu mais uma vez. Quantas quedas em um dia só, meu Deus. Que desespero. 

A fé, única inteira nessa caçada, não cansava. Preenchia o coração e, rapidinho, fazia sarar a dor. Finalmente, a rua, sim, ainda ela, havia acabado. Acabou-se a rua, mas e o resto? Não tinha tempo pra pensar. Lá do alto respirou fundo e descansou. Caiu. No caminho até o chão penso no quanto iria doer. Afinal, ainda poderia sentir mais dor?

Caiu. Dias depois foi encontrada. Garanto, se viva estivesse, iria preferir que a deixassem ali. Esquecida, caída, suja e sorridente. Com o rosto manchado de sangue, um dente partido, mas feliz. Levaram-na de lá, pra infelicidade da, agora, defunta. Dessa vez não poderia correr, gritar, chorar ou mesmo sentir dor. Colocariam um vestido preto e depois iriam fazê-la deitar em uma caixa e pronto. Presa pra sempre, sem sentir o vento bater no resto. 

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